terça-feira, 28 de junho de 2011

Momento Moris, Carpe Diem - Por Zé Luiz

Bom e abençoado dia! Para hoje, mais um texto maravilhosos do Zé Luiz, do blog Cristão Confuso, se você ainda não foi lá, está perdendo a oportunidade de desfrutar de textos maravilhosos, refletir sobre a situação da igreja atual e refletir, refletir muito... http://www.cristaoconfuso.com/

Ana

"Dia desses, depois de um “dia” de trabalho, pegava o ônibus que sai de São Caetano do Sul para São Bernardo do Campo (pelo tamanho dos nomes da cidade, dá para compreender a necessidade de todos por aqui de reduzir os nomes das cidades do ABC Paulista para S.B.C., S.C.S...), descobri que havia esquecido meus livros no escritório, meu celular estava quase sem bateria e portanto: não havia nada para fazer no cinquenta minutos de viagem.

Não, não consigo dormir em ônibus, mesmo já passando das dez da noite quando saio. Já meus companheiros anônimos de viagem chegam a roncar. Inveja.

Foi do nada que veio o pensamento: olhava o mesmo cenário de todos os dias, os mesmos muros pichados, ruas esburacadas, os mesmos alunos de faculdade voltando com seus assuntos sobre a matéria estudada. Foi contemplando a minha mão que percebi o quanto já tinha envelhecido, e quanto ela lembrava às mãos enrugadas, próprias das pessoas que tem minha idade.

Não eram mais as mãos de um moço, estão manchadas, com os nós dos dedos cada vez mais grossos a ponto de tentar manter minha aliança perpetuamente nos dedos inchados, marcando a pele.

Como esses quarenta anos passaram rápido: você não percebe os cabelos branquearem (ou caírem), nem imagina que sua cara está gradativamente mais marcada, olheiras mais acentuadas, e sua disposição e paciência cada vez mais diminuta.

-Eu vou morrer. - concluí, num lampejo de lucidez, ou como quem acorda atrasado de um cochilo. Dia desses, vai acontecer. Um, dois, dez, vinte anos. Nunca acreditei o quanto o tempo passa rápido, parece frase pronta de personagem idoso de novela.

Na verdade, nunca acreditamos que a morte nos acontecerá. Um exemplo claro dessa sensação é que todos os que leem, incluindo você, ainda não a experimentaram em sua forma definitiva (Parabéns!)). Somos do clube que respira entre os viventes deste mundo...por hora.

A verdade é que a maioria de nós finge que a morte não existe, mesmos os cristãos que sabem ser ela a última barreira, ainda não vencida. Alguns defendem que dormiremos, outros que estaremos em um plano diferente, outros que simplesmente evaporarão da existência.

Tenho que ter consciência: Qualquer hora dessas estarei em um caixão, com flores, algodões no nariz, e alguns parentes cochichando pela madrugada, outros contando piadas, enquanto alguém choraminga e é consolado pela frase “descansou...foi melhor assim...”acompanhada pelos tapinhas nas costas de um abraço (certamente, não dirão: “nossa, mais um moço tão novo!” ). Rio-me imaginando alguma tia gorda gritar na hora do enterro “eu vou com ele!”

Enfim: qualquer dia desses eu, você e todos as sua volta não farão mais parte do selecto grupo dos que vivem, apesar de detestarmos a ideia.

Contam que antigamente, monges se cumprimentavam pela manhã desta maneira:
-Memento Moris!
-Carpe diem

Em latim, um dizia algo como “Lembra que você vai morrer” no que o outro respondia “Então, aproveite o dia”.

Sim.

As vezes, a vida poder ser absurdamente antipática e desagradável, e alguns até não veem nela algo digno de se prolongar. Talvez ainda não tenham lido Cem Anos de Solidão, ou O Perfume, ou comido sem dó a costela assada de um leitão, ou tomado um pote se sorvete do mais caro. Não depender de ninguém para se sentir alegre ou feliz. Deixar suas idiotices escaparem e rir delas, independente do que pensarão. Permitir-se amar profundamente, sem medo de se decepcionar ou não ser correspondido, e quem sabe, estar satisfeito por ter aquilo na memória caso nunca mais aconteça

As dores? Lágrimas? Tristezas? Frustrações?

É uma possibilidade bem plausível para os que resolvem viver mais intensamente, mas mesmo as evitando, suas mãos, como as minhas, continuam envelhecendo, deixando bem claro que, independente de como vivemos, o tempo faz seu serviço de nos despachar da vida.

Carpem Diem"

Por Zé Luiz, http://www.cristaoconfuso.com/

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